2 de julho de 2017

MicroEnsaioPoético: Ana Cristina Cesar


... desde o perder-se, o poema é vital. Alongam-se os veios de uma repentina metáfora inventada para se estar com ele, para se desmedir, esquecer suas réguas... Um poema... uma fisionomia deitada ao longo dos desvios, um ser entrecortado dentro do limite forjado entre alívio e apelo.
Um risco seus versos me comporem... um alongar-se das minhas vistas ao seu corpo, poema... andor onde se penduram vestes trancafiadas na aparência da pele. Seu nome esvazia as chispas geradas por laços encrespados. Seu nome me agarra pelas ancas e me eleva ao céu, cujas estrelas desfazem brios nas minhas quedas... e me perco dentro de suas dúvidas... tudo que toco, cada verso, cada letra ou sinfonia aural é parte do que me depreende translúcido, poema...
... não sei mais o que não seja corpo... ante tua certa imprecisão, ponho os dentes no que minha fome alcança, lanço aos ventos o ritmo das dores em repetição agônica de lâminas; flores cortantes por cujo talho reconheço o mundo. Esse mundo, poema, que me descabela por dentro; esse do qual não vejo saída a não ser pelo verso que nasce do sangue de minhas gengivas.

Fábio Santana Pessanha

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