23 de março de 2017

CORPOemado V: umbiguidade



Um rascunho de umbigo. Invenção de lhe enfiar o dedo e meter um aceno em sua rugosidade. A confidência de mentiras às verdades não te cabem. Revela o arrepio que antecede o toque. Irrompe

de dentro do umbigo, sol. De fora, a noite num ritmo de cabelos desgrenhados. As mãos, pela passagem do que antes era e já se foi. Restos. As paredes compunham transparências. O chão limitava o elo entre risco e sobriedade. Não há espaço para calma na eloquência dos saltos

ao mirar o centro. A borda carcomia a longevidade do que se apresentava. Unha, pelos, pele, tudo consumido pelo buraco negro do ventre. Um covil luminoso. O tempo se envergava para dentro do princípio. Principiar é um gesto ambíguo de morte. E se morria a cada infestação de chuvas

pelas nebulosas que elaboram labirintos. Traços luminosos se perdiam entre vilas e paragens. Todo lugar é caminho para nudez. A cegueira decompõe apalpabilidades. O rio lunar está nos olhos de quem se deixa elevar ao préstimo de presságios.

O umbigo é um esboço. Um círculo malfadado na tangência de línguas. Atropelos. Muitos. Esquivava-se ao parapeito dos joelhos. Recompunham-se os alicerces dos beijos. Uma cena. Quem sabe. De amor.

Fábio Santana Pessanha



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