14 de dezembro de 2011

Palavra


“A palavra não se detém em cabrestos gramaticais, os quais tentam registrar com normas a insurgência de assonâncias sintáticas e coerências. A palavra não tem coerência, o que tem coerência é o que se diz sobre a palavra, mas o que se diz sobre a palavra se afunda no seu próprio enunciado, pois quando um morfema aparece para reter o sentido nevrálgico de uma sílaba, a palavra – menina travessa com pés descalços e cabelos ornamentados com flores – se liberta do jugo semântico-sintático para fundar um novo nome, um novo sentido, um novo chão para pisar e fazer traquinagens. A palavra é travessa por natureza, rumina inconstâncias, tange com mel o labor sinestésico de uma escrita, é fugaz, contraditória, avessa a fórmulas e dicionários. A palavra é a liberdade se dando ao vento, fazendo-se onda no mar, salto sem paraquedas no fundo do céu.”

PESSANHA, Fábio Santana. “A ciranda da poesia: palavra: corpo: homem: poeta”. In: PESSANHA, Fábio Santana et al. (orgs.). Poética e Diálogo: Caminhos de Pensamento. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 234.

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